Contista e romancista, Lygia Fagundes Telles começou a escrever ainda adolescente e, embora tenha demonstrado indiscutível perícia no romance, é nas histórias curtas - no conto especificamente - que ela expressa seu realismo imaginário, permeado pela agilidade textual, pela eletricidade discursiva e por uma espécie de resistência subjetiva, difícil de ser encontrada nos tempos modernos, momento no qual se verifica o esfacelamento da vida privada. Diante disso, seus personagens reúnem-se na esperança de parcerias, o que não quer dizer que facilmente as encontrem. A complexidade das relações que cerca o texto corresponde aos obstáculos com os quais se deparam na vida cotidiana. De fato, Lygia escreve sobre a experiência dos limites, ou descreve a desolação visceral dos desencontros: de pessoas, de datas, de lugares e enredo.
“Cada qual se constitui numa ilha ‘antes do baile verde’. Mesmo assim é impossível viver sem o outro. Até mesmo sem o outro que morre (...). Desencontramo-nos a partir de uma fronteira, de um esforço inútil ou fracassado de aproximação. E essa divisa que separa é ainda um ponto de encontro.”
As ficções de Lygia são reais, são fantásticas e verossímeis, tudo a um só tempo, de forma a transpor as limitações do realismo e esquadrinhar “a estrutura da bolha de sabão”. Os contos reunidos neste volume refazem ou refletem os caminhos desse realismo imaginário que Lygia desbrava a cada linha.
“Era tão quente o cheiro daquele bolo e Pedro comeu com tanto gosto (...) fiquei tão alegre que gritei de alegria (...) quando ele me chamou pra caçar vaga-lume.”
Postado por: “Verde lagarto amarelo”
Hora: “Antes do baile verde”
Data real: 23/06/2010