“... esta mina tem uma péssima reputação, graças aos inúmero acidentes que lá acontecem, seja na descida, seja nasubida, seja por causado
ar sufocante ou das explosões de grisu, ou dos lençóis de água subterrâneos, ou do
desmoronamento de antigas galerias. (...) é um lugar sombrio e à primeira vista tudo à sua vizinhança tem um aspecto melancólico e fúnebre”
Escrita na turbulência do século XIX, auge de um período de grande agitação na Europa, Germinal é uma das obras mais representativas do naturalismo, melhor dizendo, obra que inaugura o movimento que logo veio a se espalhar por todo mundo literário, a realidade aqui retratada busca descrever, por meio de observação fiel, que o individuo localizado nesse período/ espaço/ tempo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade.
Zola que transforma o drama do povo numa verdadeira epopéia, foi um dos pioneiros a retratar com severidade o proletariado, e que, em o Germinal o faz de maneira a captar todas as angústias e desilusões de uma classe trabalhadora que visa, muitas das vezes, ter somente o que comer. Através de uma linguagem popular, usada no dia a dia, aborda um diálogo aberto, porem sutil, sobre sexo, o que nos dá a impressão de estarmos lendo uma obra contemporânea.
Publicado em 1885 e baseada em acontecimentos verídicos nos mostra a luta de operários/ trabalhadores das minas de carvão do Norte da França, mais que um relato podemos dizer que é uma denúncia das péssimas condições tanto de trabalho, quanto de vida que estes eram obrigados a se submeter para que pudessem sobreviver.
“(...) Aquela parte do veio de Filonnière era tão estreita que os britadores, prensados entre a parede e o teto, esfolavam os cotovelos para retirar o carvão. Além do mais, era extremamente úmida. (...) Como os mineiros viviam em contato com o gás grisu, nem se sentiam mais o peso das pálpebras. Às vezes, quando a luz do lampião enfraquecia e tornava-se azulada, um mineiro colocava o ouvido contra o veio e escutava o ruído do gás, o ar que borbulhava nas fendas.”
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Parte da impactante narração se deve às suas costumeiras pesquisa sociológicas de caráter científico, pois Zola passou dois meses na região das minas e trabalhou como mineiro, vivendo nas mesmas condições, se alimentando nas mesmas tavernas de modo que pudesse se familiarizar com aquela atmosfera e principalmente com a recessão econômica e agrícola que permeava todo o contexto.
Ele que inspirou vários de nossos escritores a produzirem os primeiros romances naturalistas no Brasil encontra nas figuras de Aluísio de Azevedo – O mulato, Casa e pensão, O cortiço-, Júlio Ribeiro – A carne-, Inglês de Sousa – O Missionário, Adolfo Caminha – A normalista- grandes admiradores e em Portugal não mais, não menos que Eça de Queiroz – O crime do padre Amaro, Primo Basílio-, grande representante do naturalismo em Portugal.
Germinal que no calendário da Revolução Francesa é o nome do primeiro mês da primavera, que é quando as sementes das novas plantas que germinam. Usado na narrativa como uma alegoria como o germe da transformação social, que por mais que tente extraí-lo, este sempre volta a nascer.
Uma narrativa que apesar de todo cunho realista, que por vezes choca, consegue abarcar toda esperança de uma nova ordem social vindoura, uma obra que por sua constituição formal nos faz sentir na escuridão, na própria mina, mas que ao seu final nos leva a um novo dia repleto de luz e esperanças.
“(...) O sol de abril brilhava em toda a sua glória, aquecendo a terra, em que germinam as sementes. A vida desabrocha com toda força, os brotos apareciam em folhas verdes, a relva nascia. Em toda parte as sementes cresciam e brotavam, para fora da terra, em busca de luz e calor. (...) Aos raios inflamados do sol, naquela manhã de juventude, o campo estava todo tomado por aquele rumor. Os homens brotavam, eram um exército coberto de carvão, vingador, que germinava lentamente da terra, para crescer nas colheitas do século seguinte. A germinação daquele exército logo faria explodir a terra.
Postado por: Wacinom
Hora:escura
Data real:2011