Se a missão do novelista é mostrar o coração, o espírito e o corpo dos seres humanos de maneira tão significativa que leve o leitor a participar das alegrias e tristezas íntimas dos indivíduos ali retratados, então Dickens foi um grande novelista.
Em sua obra a ronda comum da existência é transformada em algo rico e estranho, ora sombrio ora iluminado pela compaixão e bondade. O que nos delicia em Dickens não é a história que ele nos conta, mas o mundo que ele nos mostra, um mundo realizado dentro dos estreitos limites da denúncia social e do otimismo e moralismo vitoriano.
Observador das novas configurações de uma sociedade eminentemente urbana e industrial, Dickens esteve entre os primeiros a detectar os males da sociedade moderna. Tornou-se mestre em compor enredos tão bem-escritos, tão repletos de personagens vivos e significativos dentro da realidade vitoriana, que foi um dos grandes escritores a nos apresentar uma variedade de personagens “tipo”, até então pouco explorados na literatura folhetinesca, o que também lhe garantiu um papel fundamental na fixação do hábito de leitura que se instaurava nesse momento.
O que nos permite dizer que a construção de suas personagens vai muito além do trabalho criativo de um artista dedicado, é um ato de amor.
E é essa dedicação que encontramos em cada capítulo de Grandes Esperanças, um romance que retrata fielmente a dura realidade da Inglaterra vitoriana, do ponto de vista dos pobres. Numa época em que os trabalhadores viviam à beira da miséria e sob constante ameaça de prisão por dívidas pendentes, as diferenças entre a classe média e os pobres perfaziam um verdadeiro abismo.
Um livro no qual Dickens por meio de Pip, um menino órfão que mora com sua irmã Mrs Joe Gargery e Joe, o ferreiro de um pequeno vilarejo, nos apresenta a ambivalência do tradicional combate do bem contra o mal. Pip não é apenas um jovem de bom caráter que se vê jogado na adversidade para se dar bem. É uma complicada mistura de bem e mal. A Bondade eventualmente triunfa, à medida que Pip desvincula a riqueza material da espiritual: ele toma consciência de seu poder para moldar seu próprio destino e se dá conta de que a virtude não está na aparência das coisas, mas no seu mérito interior
“Era uma manhã fria muito úmida. De madrugada caíra geada. Eu notara que a parte externa da pequena janela do meu quarto estava inteiramente molhada e gotejante, como se um duende tivesse chorado ali a noite toda (...) “
Um livro que nos prende do início ao fim, Grandes Esperanças não pode deixar de fazer parte da estante de nenhum leitor; uma estória intrigante e ao mesmo tempo fascinante, que o transportará a uma grande e inesquecível viagem pela Londres do século XIX.
“As peculiaridades do sentimento, as extravagâncias do gesto e da atitude, as doidas e deliciosas aspirações da alma são dadas a conhecer por forma inolvidável nos romances desse homem prodigioso e cheio de surpresas.
A riqueza da sua fantasia contraditória recebe uma rara unidade dessa energia ardente que é a alma do seu gênio indisciplinado. Dickens permanece nas letras inglesas uma identidade à parte, um homem a quem a simpatia conduziu por galerias escuras e por campos iluminados, um artífice da dor e um cinzelador da alegria.” (Nota)
Postado por: Wacinom
Hora: do desafio
Data real: 31/01/2010
26 comentários:
Adorei. Obrigada pelos momentos.
Jhs
Que bom !!!
Obrigada pelo carinho e que possa vir mais vezes.
Beijos
Gostei bastante da sua resenha Wacinom. Vou colocar o "Bleak" no topo da pilha e visitar esse universo vitoriano.
Só não esqueça de voltar e me dizer o que achou!!
Eu como tenho verdadeira paixão por literatura de língua Inglesa ... Não devo nem comentar rsrs.
Beijos e valeu pela visita.
Umas passagens muito tocantes... me deu vontade, água nos olhos...
Beijos!
Meu fotógrafo querido, a simplicidade da imagem criada, faz isso mesmo.
Beijos1
Gostei muito...
BEm Profundo...
Que bom, espero que volte mais vezes.
beijos
Dickens não é tão respeitado hoje por nada. Apesar de muitos só o conhecerem (outros tantos desconhecem) do cara que criou os tres fantasmas do natal, deixou mesmo sua marca com grandes esperanças, david coperfield e um conto de duas cidades.
Sempre tive vontade operfield é dficil de achar e depois dessa resenha ja sei qual sera o proximo depois de um conto de duas cidades. Muito bom o texto e excelente escolha de livro.
Chove bem no meio do mar
São de fogo as manhãs na ilha
A seda púrpura é lençol de amantes
Os olhos roubam a virtude à maravilha
Enchi a taça com absinto
Ergui o braço, toquei uma nuvem carmim
Ensaiei um passo de dança
Senti que os pássaros riam de mim
Senti o resto da geada em descalços pés
Calei minha viola de dois corações
Deixei entrar no peito o tamborilar de perdidas gotas
Senti o sabor sal das minhas emoções
Convido-te a partilhar a outra metade
QUE MOMENTO ÚNICO ESSA SUA POSTAGEM!
ADOREI!
Tem promo lá no meu blog, valendo um livro de ficção, maravilhoso, aguardo você por lá, é sempre um prazer!
Leninha
Oi, Wacinom! Que interessante vc comentar sobre este livro logo agora. Eu estou lendo "O jogo do anjo" e lá o protagonista é fascinado por este livro de Charles Dickens. Chega ao ponto de levar uma tremenda surra do próprio pai pra conseguir proteger este livro!
Gostei mto do seu comentário a respeito dele =)
Bjos!
Oi... Gostei muito... profundo... com certeza flores...
Bjs...
Minha querida amiga, que resenha maravilhosa!!! Vc conseguiu me encantar com cada palavra. Grandes Esperanças já está na minha estante, esperando uma oportunidade para ser lido. ;)
Bjjjs!!!
Gosto de ler Dickens! Tenho o livro "Grandes Esperanças" há muitos anos, que já foi lido e relido não sei quantas vezes...pois, quando pego nele de novo, descubro uma frase que me deslumbra e que não tinha reparado antes...
Acho que é uma óptima escolha e dica que deixas aqui para quem te lê!
Um beijo
Graça
Oiiieeeee!!!
Querida amiga, dá uma pulinho no meu blog, que tem um presentinho para vc!
Bjjs! ;)
*Sobre sua estante não me interessei por nenhum, os que me interessei eu já tenho. ;)
deixei um selinho pra vc lá no meu blog :)
Gostei do seu blog, de seus posts e principalmente da sua visita lá no Avulsilidades, te espero por lá mais vezes; aliás, tem selo lá pra você.
Este livro está na minha lista do Desafio, no mês de Lição de Vida. Sempre quis ler mas nunca me comprometi, sua resenha ajudou ainda mais a eu estar esperando ansiosa pra finalmente ler este clássico.
Oiê!
Bela resenha!
Nunca li um livro do Dickens, acredita? Ou pelo menos nunca consegui terminar nenhum... Lendo sua resenha fico bem estimulada pra levar essa missão à cabo, hehe...
Bjins
Quero aqui deixar meu carinho a todos que comentaram, e dizer que mais uma vez a resenha cumpre seu papel.
Espero continuar a despertar em vocês este desejo da latiura.
beijos
Eu não li nada de Dickens ainda, nem Oliver Twist na versão integral. Mas já tinha ouvido falar muito bem de Grandes Esperanças e depois da sua resenha, me deu uma vontade grande de lê-lo. Beijo
Ah Monicat´s... um dia eu chego nesse grau de excelência ao comentar alguma obra literária!
Beijão
Bela resenha...Parabéns....bjus elis!!!!
Olá! Aqui estou eu...rs Espero que em tempo. Obrigada pela resenha. Elucidativa e instigante servindo como um incentivo a leitura. Afinal, essa é a proposta do desafio.
Beijocas
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